segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Lectio Divina




Um filósofo, vamos dizer assim, da moda, atualmente muito influente no governo britânico, chamado Phillip Blond, explicou assim seu caminho na academia: "I started with politics, and then did philosophy because I thought none of the ideas could be understood outside philosophy and then I changed to theology because I thought none of the ideas could be understood outside theology.” (Eu comecei estudando Política e então fiz Filosofia porque eu pensei que nenhuma das idéias poderiam ser entendidas fora da Filosofia, e então eu mudei para Teologia porque eu pensei que nenhuma das idéias poderia ser entendida fora da Teologia).

Pois é, nas universidades da idade média já se sabia disso. Se desejarem conhecer mais sobre como a idade média estudava, leiam God's Philosophers de James Hannam.

Falo desse assunto, pois no dia 11 passado o papa Bento XVI lançou o que é considerado o mais importante documento sobre as escrituras da Bíblia desde o Concílio Vaticano II de 1965.

O documento se chama Verbum Domini (A Palavra de Deus) e nele o papa exorta os católicos a lerem mais a Bíblia. Isso pode parecer comum, mas não é. Os católicos, ao contrário de muitos membros das religiões evangélicas, não são conhecidos por lerem a Bíblia. A própria Igreja Católica por séculos tentou restringir a leitura de leigos da Bíblia com receio de interpretações heréticas. Há apenas 100 anos isso mudou e o papa reforça a necessidade de que os leigos se debrucem mais sobre o texto sagrado.

O papa ressalta um método de leitura chamado Lectio Divina. Esse método afirma que o estudo dos textos bíblicos deve ser feito seguido de oração, meditação e contemplação de Cristo. O papa ainda falou que essa leitura deve levar a atos cristãos, como a caridade.

Mas o papa lembrou que deve-se evitar o risco de uma abordagem individualista das escrituras, pois a "Palavra de Deus nos é dada precisamente para construir comunhão, para nos unir na Verdade no nosso caminho para Deus. Sendo uma Palavra que se dirige a cada um pessoalmente, é também uma Palavra que constrói comunidade, que constrói a Igreja... A Escritura não pertence ao passado, porque o seu sujeito, o Povo de Deus inspirado pelo próprio Deus, é sempre o mesmo e, portanto, a Palavra está sempre viva no sujeito vivo. Então é importante ler a Sagrada Escritura e ouvi-la na comunhão da Igreja, isto é, com todas as grandes testemunhas desta Palavra, a começar dos primeiros Padres até aos Santos de hoje e ao Magistério atual."

Interessante e mais técnico é quando o papa fala da interpretaçao acadêmica dos textos bíblicos, quando se usa uma metodologia histórica e crítica das escrituras. Ele ressalta a necessidade que isso seja feito, mas lembra o valor da Teologia no estudo da bíblia para que não se afaste Deus da história. Há dois níveis metodológicos que devem ser observados: histórico-crítico e teológico. Estes níveis metodológicos não devem ser contrapostos, nem justapostos. Eles só funcionam em reciprocidade.

A Escritura para a Igreja Católica deve ser interpretada usando três critérios para se respeitar a dimensão divina da Bíblia: "1) interpretar o texto tendo presente a unidade de toda a Escritura; isto hoje chama-se exegese canônica; 2) ter presente a Tradição viva de toda a Igreja; 3) observar a analogia da fé. Somente quando se observam os dois níveis metodológicos, histórico-crítico e teológico, é que se pode falar de uma exegese teológica, de uma exegese adequada a este Livro".

O documento é fruto da XII Assembléia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, celebrada em Roma de 5 a 26 de outubro de 2008. Foi publicado em latim, italiano, inglês, francês, espanhol, alemão, português, polonês. Consta de uma introdução, três partes e uma conclusão.

Se desejar ler o texto completo em português clique aqui.

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