sexta-feira, 28 de junho de 2013

Super Estado vs. Superman - Platão vs.Nietzsche


Platão idealizou uma sociedade dividida entre três classes, dirigentes (líderes filósofos), guardiães e comerciantes. Nesta sociedade, o Estado dominava tudo, inclusive tirando os filhos dos pais para posicioná-los em cada classe. Em Nietzsche, temos o super-homem, que está acima do bem e do mal e tudo serve à sua vontade. Foi a batalha entre Platão e Nietzsche que o padre Robert Barron viu ao assistir o novo filme Homem de Aço.

Ele escreveu um texto bem interessante para o site Strange Notions. Traduzo parte do texto abaixo:

Por Que Superman Não é o Que Precisamos
por Padre Robert Barron

Eu realmente não me interesso pela mais recente versão cinematográfica do mito do Superman. Como muitos filmes de hoje, foi feito para a geração que vê jogos de vídeo e MTV, com ação constante, irritantemente frenética. 

No entanto, há um tema neste filme que é digno de alguma reflexão, ou seja, a tensão entre a autonomia individual e uma sociedade controlada pelo Estado. Homem de Aço começa com um segmento longo mostrando os últimos dias do planeta Krypton. Aprendemos que há um regime totalitário feroz, liderado por um General Zod, que está buscando a prisão de um cientista chamado Jor-El. Torna-se claro que Jor-El tentou minar a política do regime de controlar rigorosamente a genética dos recém-nascidos do planeta. Da mesma forma que na República de Platão, as crianças de Krypton são rigidamente pré-programadas para serem um membro de um dos três grupos sociais.

Jor-El e sua esposa concebem um filho na maneira tradicional e tentam tentar enviar o seu filho, nascido em liberdade, longe de seu planeta moribundo. Não vou aborrecê-lo com muito mais detalhes da trama, mas basta dizer que o filho (o futuro Superman), de fato, foge para o planeta Terra e que o General Zod consegue sobreviver à destruição de seu mundo. O filme então se desenrola como a história de uma grande batalha entre o representante da liberdade e o avatar de manipulação genética e da tirania política.

Antes que você pense que o link para Platão é um pouco forçado. Em seu clássico A Sociedade Aberta e Seus Inimigos, Karl Popper, um sobrevivente da tirania nazista, apresentou a República de Platão como o precursor de todos os totalitarismos que surgiram no Ocidente. Muitas vezes Popper observou que essas tiranias começam com a melhor das intenções. Os líderes de bom coração acreditam que as suas idias irão beneficiar o maior número de pessoas Na interpretação de Popper, a sociedade francesa pós-revolucionária, a Alemanha de Hitler, a União Soviética de Stalin, e o Irã dos aiatolás seriam imitações do ideal platônico: visões idealistas que rapidamente se transformam em opressão totalitária.

Se Platão é o filósofo que melhor articula a natureza da sociedade totalitária, Friedrich Nietzsche é o filósofo que melhor exprime o caso limite do ego deificado. Além do bem e do mal, segundo ele, encontra-se a vontade do Übermensch, literalmente, o super-homem. Podemos ler a batalha entre o General Zod e Superman, portanto, como um símbolo da luta entre duas realidades falsamente divinizadas, o Estado-nação e o ego.

Felizmente, há um estado de coisas que está para além deste confronto. Na religião descrita na Bíblia  é eminentemente claro que há um só Deus e que qualquer tentativa de divinizar o Estado, o rei, ou os egos resultam em calamidade espiritual. Pode-se ler isto no relato da queda do homem no Gênesis, ou na história da Torre de Babel, ou na crítica de Samuel a ideia de Rei (I Samuel, capítulo 8) ou na história de Davi e Betsabeia (II Samuel, capítulo 11).

Tenho certeza, caro leitor, que você vai perdoar que eu revele o final do filme. O Homem de Aço vence o general perverso. Em uma narração bíblica da história, o herói do individualismo, tendo derrotado o General Zod, Super-homem se ajoelha perante Deus.



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